8 avril 2014

Choses vues / Coisas vistas

Pariceia desvairada...

Portrait de Mário de Andrade, Belleville, Paris, février 2014 (photo A. C.)

Que l’on vienne, à pied s’entend, de la rue du Transvaal, de la rue des Envierges ou encore de la rue Piat, selon sa fantaisie, c’est toujours avec gratitude et un soupçon de saisissement que l’on débouche sur ce parvis-promontoire qui surplombe le Parc de Belleville, et d’où se révèle cette vue sur Paris qui, pour n’être pas la plus connue peut-être, est assurément l’une des plus belles (quoique non sans défauts). J’ai toujours trouvé à cette étrange coudée aux fausses allures de cul-de-sac, un air de bout du monde — un café ainsi qu’une boulangerie-pâtisserie, occupant eux-mêmes des angles d’immeubles, nous y offrent une dernière chance de sociabilité ; dailleurs l’ultime fontaine Wallace s’est perdue là —, un je-ne-sais-quoi d’indifférent à la pesanteur de la ville, promesse d’un délestage salvateur ou invitation à quelque ailleurs indéfini.

Ainsi étais-je comme préparé à découvrir, il est vrai, débouchant là pas plus tard que l’autre jour, le portrait à moi familier de Mário de Andrade ele mesmo, placardé sur le mur d’enceinte du parc susnommé. Stupeur, néanmoins — évidemment. Invité là, le poète de Pauliceia desvairada (São Paulo hallucinée) ? — ce « tupi qui joue du luth », ce chantre définitif de sa ville natale, « gallicisme hurlant dans les déserts de l’Amérique », cet amoureux de son pays qui ne sacrifia jamais, en chair et en os, au rituel du voyage en Europe, contrairement à la plupart de ses camarades modernistes — et n’invoque-t-il pas en ce moment-même, sur une cimaise du Centre Pompidou, la parisienne et cosmopolite Tarsila à rentrer au pays ? Et d’insinuer, par sa présence de papier-collé, quelque chose de son expressionnisme tropical, de son futurisme-malgré-lui, enfin de son desvairismo (« hallucinisme ») dans la capitale métamorphosée, car en effet Paris était aussi, ce jour-là, « arlequinesque », « cendre et or », « lumière et brume »…

Mais enfin, quel artiste de rue — Brésilien de Belleville pris de soudaine saudade, Parisien lusophile ? — a donc bien pu avoir l’idée incongrue d’afficher là cette icône anonyme ? Combien, parmi les innocents badauds, auront identifié le personnage ? Je ne sais. (Car, on l’admettra, rayonnent d’une tout autre aura les graffitis un peu plus notoires du Che, de Rimbaud ou de Pessoa…) Un doute me taraude, tout à coup : aurait-on multiplié dans tout Paris la trombine intempestive de Mário de Andrade ? lui a-t-on accordé, sur des murs circonvoisins, la compagnie d’autres poètes, écrivains ou artistes brésiliens ? Appel à témoins.

RETOUR DE FLÂNERIE : on s’affaire à boucler l’édition française de Paulicéia desvairada, annoncée depuis quelque temps avec d’autres textes (théoriques et critiques) du même, en 2 volumes.

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(En attendant, chacun exigera chez son libraire les romans Aimer, verbe intransitif et Macounaïma, les notes de L’Apprenti Touriste, l’anthologie La Poésie du Brésil, pour tel poème choisi par Max de Carvalho, ou encore le long essai sur la poésie de Luís Aranha en annexe aux Cocktails de ce dernier : http://boisbresilcie.blogspot.fr/2010/11/qui-connait-luis-aranha.html.)

(Par ailleurs, on s’en est assuré avant qu’elle ne s’effrite tout à fait, l’effigie a pu accorder sa muette bénédiction au travail prometteur d’une traductrice inspirée, à qui l’on devra bientôt de lire les Contos novos en français.)




Especialmente para nossos prezados leitores lá no Brasil :

Que venhamos, a pé certamente, da rua du Transvaal, da rua des Envierges ou ainda da rua Piat, segundo a própria fantasia, é sempre com gratidão e uma ponta de emoção que damos nesta praça-promontório que se eleva sobre o Parque de Belleville, e de onde se revela esta vista de Paris que, por não ser, talvez, a mais conhecida, é seguramente uma das mais belas (ainda que não sem defeitos). Sempre encontrei nesse estranho canto com falsos ares de beco sem saída, um quê de fim de mundo — um café e uma padaria-confeitaria, eles mesmos ocupando ângulos de prédios, nos oferecem uma última chance de sociabilidade ; aliás, a última fonte Wallace perdeu-se ali —, um não sei que de indiferença pela cidade pesada, promessa de alívio salvador ou convite para um outro mundo indefinido.

Assim estava eu, como que preparado para descobrir, admito, dando ali, não mais tarde que no outro dia, com o retrato familiar de Mário de Andrade ele mesmo, colado numa coluna da cerca do parque acima nomeado. Espanto, contudo — evidentemente. Convidado ali, o poeta da Pauliceia desvairada ? — esse « tupi tangendo um alaúde », esse cantor definitivo de sua cidade natal, « galicismo a berrar nos desertos da América », esse apaixonado por seu país que nunca se submeteu, em carne e osso, ao ritual de viagem à Europa, contrariamente à maioria de seus camaradas modernistas — e não invocaria ele, neste exato momento, sobre uma parede do museu do Centre Pompidou, a parisiense e cosmopolita Tarsila do Amaral a voltar para a pátria ? Ele insinua, com sua presença de papel colado, algo do seu expressionismo tropical, do seu futurismo-malgrado-seu, enfim, de seu « desvairismo » na capital metamorfoseada, pois de fato Paris também era, neste dia, « arlequinal », « cinza e ouro », « luz e bruma »…

Mas, enfim, que artista de rua — Brasileiro de Belleville tomado de saudade, Parisiense lusófilo ? — pode ter tido a ideia inesperada de afixar ali este ícone anônimo ? Quantos, entre os transeuntes desavisados, terão identificado o personagem ? Não sei. (Pois, deve-se admitir, brilham com uma aura bem diferente os grafites um pouco mais notórios de Che, de Rimbaud ou de Pessoa…) Uma dúvida me atormenta, de repente : Teria o artista multiplicado por toda Paris a carinha intempestiva de Mário de Andrade ? Dera-lhe, em muros vizinhos, a companhia de outros poetas, escritores ou artistas brasileiros ? Busca-se testemunhas.

DEPOIS DO PASSEIO : estamos nos ocupando da finalização da edição francesa de Pauliceia desvairada, já há algum tempo anunciada, com outros textos (teóricos e críticos) do mesmo autor, em 2 volumes.

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Enquanto se espera, cada um exigirá, na sua livraria, as traduções dos romances Amar, verbo intransitivo e Macunaíma, as notas de viagem d’O Turista aprendiz, a antologia La Poésie du Brésil, pelos poemas selecionados por Max de Carvalho, ou ainda o longo ensaio sobre a poesia de Luís Aranha em anexo no Cocktails, deste último : http://boisbresilcie.blogspot.fr/2010/11/qui-connait-luis-aranha.html.)

(Além disso, e nos asseguramos disto antes que ela se esfarele totalmente, a afígie deu sua muda benção ao trabalho promissor de uma tradutora inspirada, a quem deveremos, em breve, a leitura dos Contos novos em françês.)


(Tradução do francês por Edilson Oliveira de Carvalho.)

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